quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Tempestade no coração




Querendo a aguarela
respirar-me na tempestade celeste
saciavam-se com pétalas de fogo

e areia fina em chuvisco
e vertendo insalubres

e penetrantes rasgos de memória
aqueles olhos onde a raiva esculpia

sombras de madeira
jamais planeadas na rota

mais fria do meu rosto.
.
O gesto oco da voz

que incidia na omoplata florida
submergia num sorriso irónico

que o vento teimava em sacudir
perante o som de pregos de aço

martelados entre os dedos
como se eu esperasse a redenção

das folhas onde escrevi
palavras que nunca lembro

nos momentos em que te sonho.
.
Sei de cor que foram muitas

as vezes que me deixaste amargurado
com as sílabas que foste proferindo

em dias de intempéries
ou mesmo quando o sol escarlate

tombava sem receio sobre o mar
eu sentia o chamamento

da fina película de óleo nas ondas
que me incendiava os poros

na esperança que surgisses na tela.
.
Não se ouvia mais nada

para lá das muralhas em ruínas tristes
Onde silenciosamente

teimavam em pousar as gaivotas viajantes
Fui-me perdendo nas horas

onde o quartzo nunca foi sugerido
para manter um rigor de horas

minutos e segundos elegantes.
.
Gélida a tempestade no coração.
.
Mesmo querendo emoldurar

a saudade nunca saberei pintá-a
porque é impossível descobrir

a dimensão que ela tem!
Como não tem dimensão
tudo aquilo que és
e tudo o que sinto por ti.
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