
Querendo a aguarela
respirar-me na tempestade celeste
saciavam-se com pétalas de fogo
e areia fina em chuvisco
e vertendo insalubres
e penetrantes rasgos de memória
aqueles olhos onde a raiva esculpia
sombras de madeira
jamais planeadas na rota
mais fria do meu rosto.
.
O gesto oco da voz
que incidia na omoplata florida
submergia num sorriso irónico
que o vento teimava em sacudir
perante o som de pregos de aço
martelados entre os dedos
como se eu esperasse a redenção
das folhas onde escrevi
palavras que nunca lembro
nos momentos em que te sonho.
.
Sei de cor que foram muitas
as vezes que me deixaste amargurado
com as sílabas que foste proferindo
em dias de intempéries
ou mesmo quando o sol escarlate
tombava sem receio sobre o mar
eu sentia o chamamento
da fina película de óleo nas ondas
que me incendiava os poros
na esperança que surgisses na tela.
.
Não se ouvia mais nada
para lá das muralhas em ruínas tristes
Onde silenciosamente
teimavam em pousar as gaivotas viajantes
Fui-me perdendo nas horas
onde o quartzo nunca foi sugerido
para manter um rigor de horas
minutos e segundos elegantes.
.
Gélida a tempestade no coração.
.
Mesmo querendo emoldurar
a saudade nunca saberei pintá-a
porque é impossível descobrir
a dimensão que ela tem!
Como não tem dimensão
tudo aquilo que és
e tudo o que sinto por ti.
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