terça-feira, 27 de outubro de 2009

O sonho...




Na noite escura de insónia
há uma alma que em mim carrego
que se transforma em silêncio doloroso.
.
As nuvens que se vislumbram no céu
escondem a lua numa penumbra que começa mais cedo
com a mudança de hora e antecipação das noites.
.
Sentado na cadeira
de roupão azul vestido,
qual céu perdido no universo,
pele sedenta de ternura,
pele sedenta de carícias
e de lábios humedecidos...
Respiro o ar frio que entra pela janela aberta da sala.
.
Vou com os passos incertos,
cabeça num rodopio de chumbo
que me vai pesando ainda mais a cada segundo que passa;
o pé dormente,
um formigueiro que se alastra pelas pernas
e me faz parar junto à cama
quando bato com os dedos na madeira da mesinha de cabeceira
e dói.
Não aquela dor que vai no coração,
mas uma outra que se junta a ela,
mas não faz esquecer a anterior, que permanece.
.
Afasto os lençóis e deslizo para o abismo
onde a solidão é como um bicho da madeira
a dormir entre os lençóis.
.
É então que vem o sonho
e nessa noite de sexta para sábado me dizes.
Dizes-me que domingo estarás comigo.
.
E o tempo passou e já é domingo.
Sorris e abracas-me quando me olhas.
Amas-me os lábios em silêncio de olhos fechados.
Dizes que o amor é infinito
impossível de apagar:
que te sentaste à espera
e que quando te levantaste o coração te levou até mim.
Porque o tempo me quererá contigo,
porque me amas e me queres contigo.

Nesse instante estavam os lençóis aquecidos,
teu corpo num dormia junto ao meu;
a estrela brilhava dentro de uma boa de cristal
com o contacto das nossas mãos.
.
A luz iluminava docemente o teu rosto
e os raios tenuamente chegavam ao meu.
Era mágico.
.
E foi então que acordei.
Era sábado e esperei.
Foi domingo e esperei.
Como se um barco viesse do horizonte ao meu encontro,
sentei-me no vazio dos degraus
e esperei que chegasses.
.
A noite voltou,
mas não estavas.
Apenas o meu coração a palpitar,
o meu peito em chamas
consumindo-se.
Amando-te sem estares,
amando-te sem saberes.
.
Voltei ao silêncio dos lençóis,
ao abismo onde me sinto sozinho
e lutei contra a insónia que me devora.
.
Hoje não tenho sono.
Mesmo sem querer sentir isto:
sinto-me sozinho.
.
O amargo da ausência.
Sinto-me sozinho,
sem ti.
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