sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Silêncio




As tuas mãos pousadas nas minhas
querem dizer alguma coisa.
Os teus braços à volta dos meus ombros
querem dizer alguma coisa;
os teus cabelos ao vento dizem tudo
sem que fales com lábios sedentos de ternura.
O teu corpo treme de ansiedade
porque deseja mas tem medo.
.
Teu coração bate forte forte no peito
e conta-me os segredos do que sentes.
O rio agitado no teu sorriso, nas tuas lágrimas,
diz-me.
E corre sem fim.
E as árvores são testemunhas do meu respirar...
E é este brilho que se reflecte nas água,
o brilho dos teus olhos ao fim da tarde
que me fascina
e me diz alguma coisa sem conseguir falar.;
.
Olho-os fixamente e sei o que eles sentem.
Eu sei, que apesar do receio
que te tatua com silêncio:
também amas os meus olhos.
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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Velha estação de comboios junto ao mar: Saudade...




Era uma menina muito doce que habitava numa velha estação de comboios junto ao mar. Nas noites mais frias enrolava-se no único cobertor que lhe restava - única memória da sua mãe -, e juntava os joelhos ao peito. depois fechava os olhos e rezava para que adormecessee voltasse a acordar no outro dia, mesmo com o corpo todo dorido da sua cama dura, mas tão sua (e de ninguém). Sozinha, vagueva pelas praças agitando as tranças caídas pelos ombros, chorava e desesperava, até que alguém se lembrava de lhe dar a mão. Agradecia os breves momentos, mostrava a sua simpatia, mas no fim ficava sempre sozinha. Numa tarde em que caíam grandes flocos de neve um homem com aspecto horrível aproximou-se dela e ela teve medo. Quis fugir, mas gelada como estava não conseguiu. Fechou os olhos temendo o pior. Ao invés disso sentiu o calor um abraço, quente mas triste. Ficou imóvel e não disse nada até que deixou de tremer e os olhos ganharam de novo vida. Ao abrir as pálpebras viu umhomem maravilhoso, um coração transbordando solidariedade e ternura. Docemente, como se a vida fosse calma com aroma a camomila, sorriu, levantou-se, fez uma vénia ao homem, saltitando depois entre a neve, esquecida da solidão. Na noite seguinte lá estava ela na velha estação. Agora o comboio saía das suas palavras e o mar vestia-se com um aspecto escuro (o aspecto das tempestades). Ela poderia adormecer, esse mesmo mar guardá-la-ia mais uma vez, não deixando que ninguém se aproximasse dela... ninguém que não tivesse o mínimo de amor dentro de si. Onde quer que estivesse, talvez aquela estrela brilhante no céu, a menina sabia que a sua mãe estava sempre com ela. Saudade...

domingo, 11 de outubro de 2009

Simplicidade...



Não sou pedaço de ouro encantado
nem quero ser prata brilhante,
muito menos diamante lapidado
ou esmeralda cativante.
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Esquece todas as opalas,
e desliga a margem dos sentidos,
o que me importa é que falas
com os teus olhos desmedidos.
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Rubis não me aquecem a esperança
e de platina não preciso para a lua,
basta que me entregues confiança
numa pétala de rosa nua.
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Quando de mansinho eu adormecer
não quero bronze ao fundo da cama
vale mais o meu sorriso por te ver
que encontrar uma fortuna na lama.
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domingo, 4 de outubro de 2009

Caminho de luz



Dou passos na noite escura em silêncio
enquanto penso no teu suave olhar
e logo surge um caminho de luz
onde eu posso seguir-te sem te tocar.
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Há uma brisa que se instala em mim,
céu de saudade a cada momento
um rosto que viaja sem fim
ao encontro de uns braços em movimento.
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Ao longe a tua silhueta com luar
e a tua sombra na paisagem
trazem-me às palavras um cantar
para te murmurar na viagem.
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A viagem que faço
às margens do rio na emoção
onde deixo um pequeno traço
que se liga ao coração.
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E sem conseguir falar-te
Escrevo esperança de mansinho
com trinta e dois pontos de luz
iluminando o meu caminho.
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A noite vai passando devagar,
A minha alma vai esperando,
E sem nunca deixar de olhar
Ao teu ouvido vai amando.
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São já muitos mais os pontos de luz
E uma força cresce firme em mim!
Tudo em ti me seduz
Enquanto luto, luto, sem fim!
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Deixo-te um secreto beijo:
fecha os olhos e respira fundo.
Pede o teu mais puro desejo
Que eu vou estar nem que seja o fim do mundo.
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Sopra com a suavidade
que só tu consegues ter
E sorri, por que na verdade,
Vou-te amar mesmo depois de morrer.
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Agora esqueço vírgulas e respiro
e não deixo pontos finais neste poema
cada dia é um novo suspiro...
um abraço com novo tema.
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A luz há-de expandir-se
e nunca haverá escuridão!
os teus dedos hão-de fundir-se
com a luz da minha mão.
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Dorme devagar porque sim
que secretamente hei-de acordar-te
quando estiveres perto de mim
e não seja preciso sonhar-te.
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Nenhuma vela apagará com vento
nem tão pouco deixaremos de sorrir
há-de esfumar-se o desalento
para que possamos uma estrela construir.
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Vou deitar a cabeça na almofada
e esperar que o anjo de ti possa chegar
a telepatia é a nossa fada
para que mesmo ao longe te possa falar.
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Aconchego-te nos meus braços...
Shhh já podes adormecer...
Não há medos nem espaços
que nos possam estremecer.
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Que este amor que sinto
não tem escala que o meça.................................................
porque no meu puzzle interior
És a mágica última peça!
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Medos II - Abraço-te



Pode o tempo parar,
as horas perderem-se,
os minutos gastarem-se em lutas,
os segundos cairem das árvores
em lutas;
os segundos cairem das árvores
tombadas pelo vento,
os centésimos serem cristal frágil
os milésimos finíssima folha de papel
para queimar as minhas mãos,
mas eu não deixarei de as entrelaçar nas tuas.
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Abraço-te
.
Pode o chão de madeira nos meus olhos partir,
escorregar na resina fria das células,
diluir-me numa floresta negra
onde não chega o sol;
ser chicoteado pelos ramos na tempestade
e não deixarei que a noite íngreme,
por maior que seja, vença.
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Abraço-te.
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Pode a pele do meu corpo sofrer uma mutação
que me torne irreconhecível,
o pôr-do-sol tombar vermelho
nas minhas unhas ensanguentadas com os dedos feridos,
os pés encherem-se de poeira agreste
ter sede infinita,
mas ainda assim segurarei a corda
para não caíres.
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Abraço-te.
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Posso ficar preso numa rede feita por um assassino,
emaranhado numa teia de aranha gigante
sem sentimentos;
ser picado por abelhas africanas,
sentir na garganta o nevoeiro escuro do silêncio...
Amordaçando-me
e ainda assim gritarei o teu nome ao céu
para que nunca me esqueças
e saibas que na noite mais escura sem luz,
pontuarei de estrelas o teu rosto triste
para que me sorrias.
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Abraço-te.
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Podem levar-me para longe,
largar-me no mar
onde sou amador entre os peixes
e presa para os tubarões esfomeados;
beber a água salgada para a minha alma e ter hipotermia,
adormecer quase lívido
e o meu coração continuará a bater
para não te deixar naufragar na tempestade
que existe em muitos momentos à tua volta.
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Abraço-te.
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Podem tirar-me o papel e a caneta,
destruir todas os livros e folhas de jornal,
contruir aviões que se desintegrem,
ou naves para enviar para órbitas longínquas
que nunca mais voltarão;
podem tirar-me a voz,
fechar-me as pálpebras para que o brilho dos meus olhos
não te fale.
Podem paralisar-me os sentidos, apagar-me os sonhos,
reescrever a minha existência,
fazer amnésia de betão na minha mente,
erguer arame farpado nos meus lábios
que chegue até a lua
e o sangue de mim tingir os lagos...
Podem arrancar-me o coração do peito,
enjaulá-lo numa solitária,
deixar que o inverno crie raízes na minha face
ou arrepiarem-me com o perfume das marés geladas
e eu não te esquecerei
e estarei aqui sempre para lutar, sem desistir.
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Abraço-te
.
Pode o medo gritar-te ao ouvido,
entranhar-se nos lençóis quando queres adormecer...
ameaçar-te no subconsciente,
percorrer as paredes em forma de sombras,
falar-te com os caninos fora da boca;
pode o medo intimidar-te, ter braços, pernas, olhos,
voz, gestos, críticas, exigências,
e com ironia querer isolar-te do mundo,
isolar-te dos teus sonhos,
isolar-te de ti mesma
isolar-te do desejo de ser feliz:
e eu estarei sempre em cada milímetro de ti
para que o sol nasça fresco como o pão quente,
para que a chuva caia como as lágrimas de alegria,
para que a dor intensa deixe de ser maré contínua.
Transformá-la.
Combatê-la.
Moldá-la.
Vencê-la.
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Abraço-te.
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Pode uma flecha flutuar no vazio
e correr galáxias em busca de veneno
que me possa aniquilar como se de uma serpente se tratasse,
pode um leão surgir-me no caminho
com arrogância e ferocidade,
ou um bando de abutres dar-me bicadas:
voarei sempre no teu coração
para que ele receba o meu carinho.
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Podem cair todas as lágrimas
mas conseguirei ser o melhor nadador do mundo.
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Abraço-te.
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Enfrentarei qualquer medo de ambos.
Posso tremer e a respiração ficar lenta.
Podem tirar-me tudo,
mas jamais poderão fazer-me desistir
do arco-íris que me dá cor à vida:
Tu.
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