terça-feira, 13 de outubro de 2009

Velha estação de comboios junto ao mar: Saudade...




Era uma menina muito doce que habitava numa velha estação de comboios junto ao mar. Nas noites mais frias enrolava-se no único cobertor que lhe restava - única memória da sua mãe -, e juntava os joelhos ao peito. depois fechava os olhos e rezava para que adormecessee voltasse a acordar no outro dia, mesmo com o corpo todo dorido da sua cama dura, mas tão sua (e de ninguém). Sozinha, vagueva pelas praças agitando as tranças caídas pelos ombros, chorava e desesperava, até que alguém se lembrava de lhe dar a mão. Agradecia os breves momentos, mostrava a sua simpatia, mas no fim ficava sempre sozinha. Numa tarde em que caíam grandes flocos de neve um homem com aspecto horrível aproximou-se dela e ela teve medo. Quis fugir, mas gelada como estava não conseguiu. Fechou os olhos temendo o pior. Ao invés disso sentiu o calor um abraço, quente mas triste. Ficou imóvel e não disse nada até que deixou de tremer e os olhos ganharam de novo vida. Ao abrir as pálpebras viu umhomem maravilhoso, um coração transbordando solidariedade e ternura. Docemente, como se a vida fosse calma com aroma a camomila, sorriu, levantou-se, fez uma vénia ao homem, saltitando depois entre a neve, esquecida da solidão. Na noite seguinte lá estava ela na velha estação. Agora o comboio saía das suas palavras e o mar vestia-se com um aspecto escuro (o aspecto das tempestades). Ela poderia adormecer, esse mesmo mar guardá-la-ia mais uma vez, não deixando que ninguém se aproximasse dela... ninguém que não tivesse o mínimo de amor dentro de si. Onde quer que estivesse, talvez aquela estrela brilhante no céu, a menina sabia que a sua mãe estava sempre com ela. Saudade...

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