sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sangue inflamável





Ceifas as pálpebras,
esmagas o céu escarlate
com a timidez oblíqua
num vaso esquartejado.
.
O campo adormece-te na pele,
a noite nasce-te da boca
em flutuação irrespirável
para lá do firmamento refractário.
.
Arrancas a neblina da aragem
que absorve a corrente de ar
nos rodados enlameados
pela força motriz
de um beijo relâmpago.
.
Ninguém te ouve serenar
para lá do último hectare
regido por sonhos
que os herbicidas teimam
em querer aniquilar.
.
Dilatas as pupilas nas mãos,
abres as portas do rosto,
e no pátio da voz
sopras a imagem do fruto
que amadurece na língua da tua árvore.
.
Acendes um cigarro
com o enxofre do fósforo
humedecido na alma.
.
Lentamente deixas-te embalar
pelo desnível da pastagem
folheada pela saudade.
.
O granizo apedreja-te os sentidos
e tu receias a escuridão.
.
Por isso trago comigo um candeeiro
cheio de sangue inflamável
que te iluminará para sempre
em todos os mundos em que te sinto!



rainbowsky

1 comentário:

  1. Olha, vim assim como quem passeia e deparei-me com novidades. Parabéns e beijinhos. Gosto de ler, já sabes. :)

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