quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Saudade



Os olhos doem
mas consigo ver-te sempre no meu coração.
.
As minhas mãos tremem
mas seguro-te firme no meu peito.
.
Os ouvidos têm zumbido
mas segredo-te palavras de ternura.
.
Os lábios não se movem
mas beijo-te mesmo quando estás ausente.
.
A cabeça parece rebentar
mas segura-se porque estás na minha mente.
.
O sorriso está anestesiado
mas no mundo do sono acordo.
.
Toca-me com os teus dedos,
e diz-me que nunca mais
te afastarás dos meus...
.
Preciso de ti.
Preciso de ti.
E o eco da minha voz
Grita no teu peito.
Será que ouves as saudades
que sinto por ti?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O sonho...




Na noite escura de insónia
há uma alma que em mim carrego
que se transforma em silêncio doloroso.
.
As nuvens que se vislumbram no céu
escondem a lua numa penumbra que começa mais cedo
com a mudança de hora e antecipação das noites.
.
Sentado na cadeira
de roupão azul vestido,
qual céu perdido no universo,
pele sedenta de ternura,
pele sedenta de carícias
e de lábios humedecidos...
Respiro o ar frio que entra pela janela aberta da sala.
.
Vou com os passos incertos,
cabeça num rodopio de chumbo
que me vai pesando ainda mais a cada segundo que passa;
o pé dormente,
um formigueiro que se alastra pelas pernas
e me faz parar junto à cama
quando bato com os dedos na madeira da mesinha de cabeceira
e dói.
Não aquela dor que vai no coração,
mas uma outra que se junta a ela,
mas não faz esquecer a anterior, que permanece.
.
Afasto os lençóis e deslizo para o abismo
onde a solidão é como um bicho da madeira
a dormir entre os lençóis.
.
É então que vem o sonho
e nessa noite de sexta para sábado me dizes.
Dizes-me que domingo estarás comigo.
.
E o tempo passou e já é domingo.
Sorris e abracas-me quando me olhas.
Amas-me os lábios em silêncio de olhos fechados.
Dizes que o amor é infinito
impossível de apagar:
que te sentaste à espera
e que quando te levantaste o coração te levou até mim.
Porque o tempo me quererá contigo,
porque me amas e me queres contigo.

Nesse instante estavam os lençóis aquecidos,
teu corpo num dormia junto ao meu;
a estrela brilhava dentro de uma boa de cristal
com o contacto das nossas mãos.
.
A luz iluminava docemente o teu rosto
e os raios tenuamente chegavam ao meu.
Era mágico.
.
E foi então que acordei.
Era sábado e esperei.
Foi domingo e esperei.
Como se um barco viesse do horizonte ao meu encontro,
sentei-me no vazio dos degraus
e esperei que chegasses.
.
A noite voltou,
mas não estavas.
Apenas o meu coração a palpitar,
o meu peito em chamas
consumindo-se.
Amando-te sem estares,
amando-te sem saberes.
.
Voltei ao silêncio dos lençóis,
ao abismo onde me sinto sozinho
e lutei contra a insónia que me devora.
.
Hoje não tenho sono.
Mesmo sem querer sentir isto:
sinto-me sozinho.
.
O amargo da ausência.
Sinto-me sozinho,
sem ti.
-
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sábado, 24 de outubro de 2009

Beijo




Um beijo,
um mimo,
um sorriso,
um toque,
um silêncio,
um sentido,
um lugar,
um sentimento.
.
Uma boca,
outra boca,
a razão,
a paixão,
o luar,
uma estrela,
o mar,
a tentação,
a viagem,
a luz,
a escuridão,
o ritmo,
a imagem,
a sensação.
.
A tormenta,
a ternura,
a saudade,
tu, eu,
o abraço,
amizade.
.
O romantismo,
o carinho,
o retrato final.
Espaços vazios
libertos de sal..
.
Adeus amargura,
adeus tristeza...
Um toque de magia,
e no teu íntimo
a beleza.
O sol,
o céu,
confiança.
.
Uma praia esquecida,
uma cascata de fogo,
um oásis de sabor,
um gemido doce,
um olhar de licor.
.
A espera,
um barco junto ao cais,
espuma entre os dedos,
respiração,
temperança.
.
Uma sombra,
o orvalho nas pálpebras,
as nádegas despidas,
um espelho na folhagem,
teu corpo nu,
eterna viagem.
E o beijo.
.
Revisto a medalha de bronze
com a película da ternura.
.
Transporto as nuvens
e faço-te flutuar sobre elas,
seios gelados
aquecidos pelos lábios
do pôr-do-sol;
uma aurora de cor,
um cântico de amor.
.
Que este querer
é mais que orquídea
num jardim florido
a renascer,
é planície de ânsia
e montanha sinuosa
de desejo em te ter.
Os lábios em aproximação.
.
Viro o mundo ao contrário,
e desenho galáxias
no teu sorriso,
abro o armário,
tiro a camisa
que visto
para me encontrar contigo.
.
Sou pedra simples
num riacho
onde és água corrente,
sou peixe
e tu és coral,
sou ser imperfeito,
mas real.
.
Caminho no teu corpo,
sou passeio polido,
chão de madeira afagada,
para os teus pés descalços,
sou colo onde te deitas
para dormir debruçada.
.
Sou continente,
tu és mundo,
sou sistema solar,
és universo,
sou arco-íris
és tela
onde ele está pintado.

.
Lábios humedecidos
íntimo da tua pele
como pena leve ao vento,
uma leve brisa da minha boca
em sopros quase imperceptíveis
para arrepios infinitos.
.
Traços de carvão,
pirâmides de mistério,
como um furacão
no outro hemisfério.
E um beijo.
.
Que eu ouço a tua voz,
sinto o teu paladar,
cheiro a tua essência,
tacteio o teu mundo
e vejo o teu olhar.
.
Fecha os olhos
e dá-me a tua mão...
podes confiar-me a vida,
se achares
que a podes estar a perder!
Porque para ficares com ela,
dava-te o meu coração
num beijo
para conseguires viver!
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009



O coração tem medo.
O medo ri.
.
Há-de extinguir-se
dentro de ti.
.
Que eu sou lutador feroz
impossível de desistir!
.
Abre o peito. Fecha os olhos.
Sente .
.
O medo há-de perceber
que foi vencido.
.
Hei-de abraçar-te
e literalmente estares comigo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Silêncio




As tuas mãos pousadas nas minhas
querem dizer alguma coisa.
Os teus braços à volta dos meus ombros
querem dizer alguma coisa;
os teus cabelos ao vento dizem tudo
sem que fales com lábios sedentos de ternura.
O teu corpo treme de ansiedade
porque deseja mas tem medo.
.
Teu coração bate forte forte no peito
e conta-me os segredos do que sentes.
O rio agitado no teu sorriso, nas tuas lágrimas,
diz-me.
E corre sem fim.
E as árvores são testemunhas do meu respirar...
E é este brilho que se reflecte nas água,
o brilho dos teus olhos ao fim da tarde
que me fascina
e me diz alguma coisa sem conseguir falar.;
.
Olho-os fixamente e sei o que eles sentem.
Eu sei, que apesar do receio
que te tatua com silêncio:
também amas os meus olhos.
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